A saudade é a memória do coração

"A saudade não está na distância das coisas, mas numa súbita fractura de nós, num quebrar de alma em que todas as coisas se afundam."

Os primeiros "dias" foram esquecidos, de tão breves e alvoroçados.
Com tanta incerteza, pouca coisa se guarda para recordar, a não ser a saudade.
Depois fui-me entregando, à procura de aconchego... Todas as manhãs abria, lentamente, como quem espera que a paisagem mude, a janela do meu quarto. E todos os dias suspirava por não ter "aquela luz" diante de mim.
Os caminhos repetiam-se, num ritual de quem sabe que está perdida.
Fui-me deixando.
Bati de frente com a vida, e com o que agora esta me mostrava. Não gostei.
Mas sempre acreditei, com mais ou menos um sufoco, que haveria de ser melhor.

Agora, um ano depois, e numa data que não é a minha mas que marcou, fiz a pazes com o mar do Porto.
Não hesitei em pisar a areia molhada e em cheirar o sal, e fugi para o canto que me recolheu, e de onde nunca saí, afinal...
Inspirei tudo o que um ano me deu, e expirei o menos bom, deixando que o fim de tarde o levasse, no ar frio que arrefeceu o meu chá.

"Cresceste, Marta!", disse-me a Mi.
"A consciência das nossas forças fá-las crescer"

No príncipio custou. Mas agora quero continuar.
Com o que há de novo e com que já era meu.
Estou bem e de bem.

"O bem ou é presente, ou passado, ou futuro: se é presente, causa gosto; se é passado, causa saudade; se é futuro, causa desejo."

*O meu maior beijo*